Visão poética sobre o Compacto.Cine em Araraquara

Compacto.Cine permitindo a cada localidade montar a sua própria impressão digital e fazendo com que cada Grito Rock tenham uma interação maior com a múltiplas linguagens apresentada no festival, que não parte só da música, mais com arte integradas!

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Ontem, foi exibido o filme “Daquele Instante em Diante” , do diretor Rogério Veloso , na abertura do momento festivo, o escritor Daniel Cruz Berto, fez uma analise especial sobre a noite no Grito Rock Araraquara.

O evento foi gratuito e exibido em Praça Pública, através da parceria com a Sessão Zoom, e aproveitando o momento festivo, o escritor Daniel Cruz Berto, fez uma analise especial sobre a noite. Confira:

“Apagou-se a luz, mas a lua e os olhos dos que estavam na Praça das Bandeiras nessa segunda feira estavam acesos. Sessão Zoom, ao ar livre, uma noite maravilhosa e na telona a vida e obra de alguém que gritou.
Depois daquele instante.
Todos foram absorvidos pela história dessa figura rara, marginal da música paulista, vanguardista da música popular brasileira, todos fixaram na tela os rostos atentos, absorvendo de certa forma a firmeza, o brilho e a genialidade desse artista que ousou simplesmente ser e fazer o que quis de sua vida, sem se preocupar com rótulos, com fama, com movimentos.
“Não tem exatamente com o Itamar”.
Assumpção do Beleléu, inquieto, constantemente desassossegado, como todo gênio tem de ser, trouxe um tipo único do “swing negão” a musicalidade brasileira. Cheio de influencias maravilhosas, como Miles Davis e Bob Marley, o artista, que na vida pessoal era um cara simples, ligado as plantas e a família como todo bom interiorano, se mexia, era o movimento negro, e com sua música, presença de palco e convicção nas suas idéias e sonhos, construiu uma obra inspiradora, principalmente àqueles que admiram a coerência das atitudes tomadas a respeito daquilo que se sonha. Itamar escolheu viver de suas composições, não se vendeu, não corrompeu seu estilo único, não se dobrou a indústria e por isso viveu sempre a margem da cena musical. Era de fato um vanguardista, alguém que propunha o novo:
“Será que o resto da vida vai ser só Caetano e Gil?”
Uma vez questionado sobre o porquê não conseguia fazer sucesso, respondeu:
“Eu sempre faço sucesso”.
Provocante, reconhecido e aclamado gênio pelos críticos, mas abandonado pelas mídias, estigma esse que o seguiu até sua partida, Itamar deixou o legado de alguém que buscou viver o q sonhava.
Acendeu-se a luz e a lua se refletia nos olhos emocionados e avivados pela exibição e que se voltaram para a presença do diretor Rogério Velloso que Com imagens e gravações que na sua maioria estavam perdidas em gavetas de familiares e amigos e no esquecimento dos arquivos de emissoras de televisão, mergulhou na vida e obra de Itamar Assumpção. O diretor, que ficou sentado lá no fundo curtindo a noite a lua, seu filme e como ele tocava todos os presentes, se sentou com o público após a exibição e falou sobre a casualidade que resultou no início do projeto, sobre como o processo de desenvolvimento do documentário o fez refletir e redefinir sua forma de trabalho e principalmente sobre como esse projeto se atrelou a sua vida. Conversando como se fosse mais um freqüentador da querida Praça das Bandeiras, compartilhou da emoção que todos sentiram ao ver alguém que gritou sua obra, alguém que sonhou e lutou pra viver esse sonho e não cedeu a pressão imposta pela sociedade contra quem ousa escolher viver seu sonho, o que pra mim é o principal princípio do rock n roll. Talvez os novos tempos e o atual cenário sóciopolítico tenham dado a Itamar o seu devido valor. Gritemos todos! “