Rock, rap, ferveção: Grito Rock BH alia tipos improváveis em noite de abertura

Que a menção ao “rock” no título do festival deixou de categorizar um gênero específico para qualificar uma atitude, quase todo mundo sabia. Mas, além de seguir a cartilha agregadora sugerida por sua marca, o Grito Rock Belo Horizonte deu um passo à frente. No último sábado (04), acendeu os letreiros da primeira etapa da edição 2015 iluminando em neon amostras de uma cultura de rua que questiona os próprios genes, digamos.

Rico Dalasam, músico paulistano apontado como pioneiro do Queer Rap (o rap de bicha) no Brasil, e a belo horizontina Zaika dos Santos, força consolidada da militância feminina no universo Hip Hop, injetaram uma grande dose de resistência na pixxxta do Baixo Centro Cultural. Cerca de Cerca 300 pessoas lotaram o Baixo. A casa escolhida para encampar o evento por si só é uma referência do underground pirracento da cidade, tendo herdado tanto o espaço físico no qual funcionava o Nelson Bordello, como a cadeira afetiva do bar na agenda boêmia. Na abertura do Grito, o ator Darlan Cunha, o músico Hamilton de Holanda e a apresentadora Maíra Lemos marcaram presença.

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Quando o DJ Fael convocou Zaika do Santos ao fim de seu set, todo mundo já sabia o que estaria prestes a acontecer: funk da quebrada, dub, cores, tranças para além da cintura, um figurino colado e — a novidade — a presença de um bailarino durante a apresentação. Acompanhada por DJ Eddie, Zaika derrubou o caldeirão de graves mixados no EP “Desabafo”. E, para além dos que conheciam Zaika de outros rolês, mais admiradores foram creditados em sua conta. Bom, o dançarino dela não é apenas um dançarino — Master Drago é um showman. Ele também canta e, com o projeto ‘Eu Soul’, faz entregas distintas à cultura negra local.

O nome de Rico Dalasam se tornou uma das tags mais comentadas no sudeste desde qo lançamento de “Aceite C” nas redes. Com um “Salve, salve, Beagá”, Rico entrou em cena, junto do DJ Felipe Caetano e esgotou as possibilidades do fervo não incendiar o Baixo Centro. Batendo cabelo e notavelmente surpreso com a recepção que teve, o rapper extrapolou as faixas do EP “Modo Diverso”, expondo samples e letras ainda não lançadas. O feedback vinha espontaneamente: toda hora alguém soltava um eu te amo e soltava gritinhos quando o show parecia terminar.

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“Arrasou, mana. Teve bom”. O sinal mais evidente da integridade de um trabalho artístico aparece quando a troca entre artista e público excede o palco. Rico Dalasam e Zaika Oficial deixaram todas as cartas à mostra na noite que inicia a jornada do Grito Rock BH 2015. Das mais importantes figuras na militância por minorias — mesmo dentro de grupos minoritários —, ambos ajudam a erguer novos referenciais no imaginário da cultura de rua. E fazem isso provando que fervo é protesto. Que o diga o público do BAIXO Centro Cultural, que deu em troca aquilo que recebeu: um “só força” e “tamo juntas” quase traduzidos na linguagem do selfie.